quinta-feira, 14 de outubro de 2010


O MARTÍRIO DO ARTISTA

Arte ingrata! E conquanto, em desalento,
A órbita elipsoidal dos olhos lhe arda,
Busca exteriorizar o pensamento
Que em suas fronetais células guarda!

Tarda-lhe a Idéia! A Inspiração lhe tarda!
E ei-lo a tremer, rasga o papel, violento,
Como o soldado que rasgou a farda
No desespero do último momento!

Tenta chorar e os olhos sente enxutos!...
É como o paralítico que, à míngua
Da própria voz e na que ardente o lavra

Febre de em vão falar, com os dedos brutos
Para falar, puxa e repuxa a língua,
E não lhe vem à boca uma palavra!

                                                              Augusto dos Anjos 

Um tempo sem postar, com idéias que vem quanto não devem, e que faltam quando necessárias, rs

2 comentários:

  1. Por mais que a inspiração lhe venha em horas impróprias ou em momentos que não há nada a se fazer com ela, tenha a certeza de que nunca conheci ninguém que soubesse tão bem o que fazer e falar em cada momento, como você.
    As vezes parece que você lê mentes, amor, de tão certeiras que são suas palavras e ações...
    Te amoooo ;*

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  2. "O poeta é um fingidor.
    Finge tão completamente
    Que chega a fingir que é dor
    A dor que deveras sente.

    E os que lêem o que escreve,
    Na dor lida sentem bem,
    Não as duas que ele teve,
    Mas só a que eles não têm.

    E assim nas calhas de roda
    Gira, a entreter a razão,
    Esse comboio de corda
    Que se chama coração."

    - Fernando Pessoa

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